
Quando versamos sobre Astrologia no Ocidente[1] devemos começar pela Mesopotâmia, onde existem registros de 15.000 anos a.C. Nessa época, as fases da Lua eram anotadas em pedaços de osso. Essas observações, que hoje marcam a sua origem, atestam o que hoje seriam chamados de presságios.
Na maior parte do tempo, esses presságios se misturavam a previsão do tempo (astronomia), mas o que marcou esse povo foi o fato de que gravavam de forma sistemática os fenômenos celestes e faziam a correlação desses com eventos terrestres (estaria aqui a origem dos bancos de dados?).
A forte instabilidade política da região determinava a possibilidade de perda de poder, levando reis e imperadores a manter vários “observadores do céu” que os informavam sobre os fenômenos que viam, mantendo-os atentos quanto a esses presságios.
Tempos depois, os sumários inventaram o sistema sexagesimal, facilitando assim, as operações matemáticas com relação à Astronomia. Quando o Egito e a Babilônia se unificaram, a troca de conhecimentos se intensificou.
Por vários séculos que se sucediam, os povos que viviam entre os rios Tigre e Eufrates continuavam a registrar suas observações, verificando a recorrência de ciclos planetários, chegando a calcular as posições dos planetas com certa precisão.
Em 533 a.C. ocorreu o domínio da região por Ciro II, da Pérsia. Foi um período de estabilidade. Ocorreu a introdução da matemática nos cálculos astronômicos e astrológicos.
Esses saberes conheceram então um grande avanço com a regularização dos calendários como consequência de um entendimento maior dos ciclos celestes. Os planetas ficaram estabilizados em signos zodiacais. O contato com a religião persa entre o simbolismo solar e a Astrologia, introduziu o conceito de “monoteísmo”.
Quando Alexandre, o Grande conquistou o Egito, a região floresceu em cultura e conhecimento. O grego tornou-se a língua dominante. As cartas astrológicas desse período datavam de 263 a.C. e os graus dos signos já eram mencionados. A Astrologia baseada em horóscopo florescia.
Tempos depois, sob a dominação romana, a cultura ainda era helenista. O mais longo tratado astrológico feito a partir do movimento filosófico dos estóicos, datado do primeiro século depois de Cristo – o Pentateuco – foi redigido.
Entre 117 e 118 d.C., o imperador Adriano foi um patrono da Astrologia. Aos poucos a tradição astrológica foi sendo levada e transformada em contato com as populações do norte da Europa e da Ásia Menor.
Entretanto, foi Ptolomeu (100-170 d.C.?) que foi considerado o grande sistematizador de uma corrente astrológica, escrevendo, entre outros, o famoso “Tetrabiblos” onde reuniu tudo o que se sabia a respeito da Astrologia até essa época. Ele incorporou também as categorias da medicina explicada no simbolismo astrológico. Expôs de forma organizada a teoria geocêntrica, onde temos a Terra no centro do universo, em torno da qual giram os outros corpos celestes (essa teoria só seria abalada com o surgimento da teoria heliocêntrica proposta por Copérnico, no século XIV).
Em 313 d.C., o Cristianismo era a religião oficial do Império Romano, embora o paganismo fosse ainda tolerado. Nessa data ocorreu o Concílio de Nicéia que iria alterar para sempre a relação entre astrólogos, cristãos e a estrutura social no Ocidente. Nesse evento decidiu-se pela negação e perseguição de toda e qualquer forma de crença mágico-religiosa que não fosse alinhada com a temática da Igreja Católica.
As divisões no Império Romano persistiram e se agravaram e o Império se dissolveu. Alguns anos após a queda, a visão de Ptolomeu foi retomada. O Império Bizantino separou o que restava do Império Romano em duas partes: o do Oriente e do Ocidente.
Um pouco depois o imperador Constantino fundou a Cidade de Constantinopla. Dizem que ele escolheu certas estrelas fixas a fim de construir a cidade com o objetivo que durasse em poder e glória por centenas de anos.
Observação importante: Astrologia e Astronomia caminharam por muito tempo de mãos dadas. Na parte final do período medieval, a Astronomia foi tratada como função da astrologia. Através da compreensão dos movimentos dos astros eram feitas as previsões nesse período.
Nos séculos XVII e XVIII é que as duas disciplinas passaram as er consideradas completamente separadas. A Astrologia utilizava as posições aparentes dos objetos celestes como base para fazer premonições de eventos futuros e a Astronomia fazia cálculos a partir das posições calculadas das esferas celestes. Essa separação ocorreu em decorrência do iluminismo (1715-1789).
O Iluminismo foi um movimento intelectual europeu surgido na França no século XVII e cuja principal característica foi defender o uso da razão sobre o da fé para entender e solucionar os problemas da sociedade. O período em questão encerrou-se com a explosão da Revolução Francesa.
Em nossa época pós-moderna, a Astrologia continua ocupando esse lugar, o de fazer presságios, com base na localização de luminares, planetas e estrelas fixas. Entretanto, desde o século XX, com o desenvolvimento da matemática, estatística e dos computadores, algumas correntes começaram a estudar e aplicar técnicas para realizar novos estudos.
Dentre esses novos estudos destacamos o da psicologia. Assim, a denominada Astrologia Psicológica coloca em foco não só os fatores externos previstos, mas também a dinâmica psíquica desse momento particular para um determinado ser humano.
Segundo Ugo Volli, semiólogo e acadêmico, o que mais impressiona ao considerar o estatuto cultural da Astrologia é sua extraordinária longevidade e estabilidade [2]. Continua: “Embora as tábuas babilônicas misturem presságios astronômicos e sintomas meteorológicos… a matéria da profecia não deixa de estar muito estruturada, por exemplo, com um sistema de equivalências entre planetas e estrelas fixas”.
E conclui: “Ainda mais surpreendente é a sobrevivência das crenças astrológicas no mundo moderno e contemporâneo”. A afirmação do paradigma científico, quantitativo e empírico, destruiu as ligações entre a Astrologia e a cultura douta. Entretanto, nas crenças populares sobrevivem as “superstições” astrológicas e hoje conhecem um momento de florescimento no mundo da mídia, entre os jovens e em ambientes que percebem uma crise teórica e prática nos modelos do pensamento “racional”.
Podemos perceber claramente hoje uma aproximação da Astrologia com outros saberes: Psicologia, Sociologia, Filosofia, Semiologia, por exemplo, levando o saber astrológico a uma aproximação com as Ciências Humanas, englobando o estudo das origens, desenvolvimento físico e cultural, características sócias, crenças etc.
Todos esses estudos de aproximação condicionaram nossos estudos em relação à Psicanálise. Mas antes de entrarmos nesses assuntos, vamos dar uma olhada num breve histórico da Psicanálise.
[1] Abramo, Bárbara, “História da Astrologia no Ocidente”, www.espacoastrologico.com.br”
[2] Volli, Ugo, “A linguagem da astrologia”, Ed. Presença: Lisboa, 1990, p. 27 e 28.