
Astrologia é um saber milenar que em seus primórdios foi utilizada no sentido de interpretar e fazer presságios em relação a grandes eventos ou procurando encontrar respostas para pessoas poderosas ou endinheiradas (reis, rainhas, súditos especiais etc.). Nesse momento não se pretendia alcançar pessoas comuns.
A partir do Iluminismo, paulatinamente, esse eixo foi se deslocando do coletivo para o individual. A entrada em cena da Psicanálise, no fim do século XIX e início do XX, auxiliou o ser humano a centrar sua observação sobre si – um determinado sujeito.
Questões como sofrimento psíquico, violência e depressão, sofridas por cada sujeito, assim como, a atenção nas habilidades pessoais começaram a ser colocadas em evidência, potencializando aos Astrólogos, um caminho de estudo e pesquisa com ênfase para os mapas astrológicos.
Na segunda parte do século XX e início do século XXI, o conceito de transdisciplinaridade evoluiu e começou a ecoar para as sociedades ocidentais, levando alguns astrólogos a se aprofundar em estudos de filosofia, sociologia, antropologia e até linguística, dentre outros saberes.
Em minha formação como Psicanalista, comecei a observar questões pertinentes entre a Astrologia e a Psicanálise. Leia-se aqui a Psicanálise criada por S. Freud e posteriormente desenvolvida por Jacques Lacan (em seu retorno à Freud). Não abarcamos nesse trabalho as contribuições feitas por Carl G. Jung que são objeto da Psicologia Analítica, por ele criada.
Estudando a Psicanálise, Freud/Lacaniana (e eventualmente outros psicanalistas, como por exemplo, Piera Aulagnier), evidenciamos um trabalho voltado para uma série de simbolismos teóricos que foram usados por Lacan para explicar/desvendar a teoria psicanalítica, tais como: grafos, matemas, nó borromeano, tipologia do TORO e outros.
Pude estudar e concluir que todo esse artefato pode também ser utilizado na Astrologia, pois além de serem representações simbólicas, encontram correspondência na teoria astrológica. Por exemplo, a estrutura do “nó borromeano” utilizado por Lacan:

Na Astrologia, podemos representar assim:

Ou ainda a figura tipológica do TORO (que demonstra a dialética entre demanda e desejo):

Semelhante ao movimento de translação e rotação da Terra:

Protágoras, um célebre sofista da Grécia Antiga, afirmava que o ser humano é a medida de todas as coisas. No campo epistemológico, as coisas se referem a todo objeto de conhecimento. Nesse sentido, a Psicanálise e a Astrologia, como objetos de conhecimento, podem caminhar em paralelo, buscando novos paradigmas na equivalência de suas representações.
Temos então que a Psicanálise encontra na Astrologia um método de investigação que fornece uma visão diferenciada e interessante do psiquismo humano, incluindo aí o conceito de Inconsciente, numa tentativa de explicar o funcionamento do aparelho psíquico de um determinado sujeito.
Vale lembrar que a Astrologia se formou através de séculos. Podemos entender a criação de um grande “banco de dados” que, através da repetição dos eventos e ciclos planetários, capacitou os seres humanos a fazer “previsões”. Entretanto, como afirmou uma colega psicanalista, o destino são os outros, evidenciando que todos estamos atrelados a representações simbólicas.
É importante destacar que meu trabalho foi desenvolvido especificamente dentro de um ambiente clínico. Não se inserem aqui aspectos de outras análises astrológicas, como a Astrologia Mundial,
Um dos meus propósitos é estabelecer uma “provocação” a ambos, astrólogos e psicanalistas: como se coloca a questão do livre-arbítrio? É possível efetivamente estabelecer um diálogo entre esses dois saberes.
Complexo até aqui? Vamos devagar. Iremos apresentar uma breve história da Astrologia.