
A primeira aparição do termo Supereu (Saturno – casa 10)na obra freudiana ocorreu em 1923 no seu texto “O Eu e o Id”. Essa instância psíquica especial que atuaria a partir do Ideal do Eu (Júpiter – casa 9) exigindo a satisfação narcísica e, ao mesmo tempo, observaria o Eu e mostraria a ele, o quão distante ele se encontra desse Ideal.
A princípio o Supereu tem sua origem no declínio do Complexo de Édipo. Freud ainda afirma que a agressividade (precisamos entender que tipo de agressividade é relativa à Capricórnio) do Supereu não se deve apenas à introjeção da autoridade parental (e similares). Ela é principalmente e originalmente, fruto da pulsão de morte.
Lacan definirá o Supereu como uma “instância que fala”, quer dizer, uma instância simbólica (pulsão invocante). A lei do Supereu é uma lei insensata, que não só proíbe o gozo, mas o incita.
Questões importantes podem se colocar aqui: sabemos que a Astrologia Clássica considera Saturno como o planeta regente dos signos de Capricórnio e Aquário.
Em Capricórnio, o planeta Saturno, em sua função de Supereu exerce uma posição de limitação frente à expansão de Júpiter. Tem sido chamado de planeta do Destino, o Senhor do Trauma ou Grande Maléfico. Também está associado ao senso de responsabilidade, aos limites que são impostos pela vida e ao reconhecimento da realidade.
Um exemplo mitológico grego vem através da cabra Amaltéia, aquela que amamentou Zeus. Uma cabra extremamente feia – que afugentava os Cabiros, tomados de pavor – mas foi quem amamentou e salvou Zeus. Assim, os gregos interpretavam a cabra como símbolo da realidade: ela é muito feia, mas dá leite.
Quanto a agressividade do Supereu (em Capricórnio, inicialmente) podemos entendê-la de diversas maneiras: desde o tom professoral (enérgico) que muitas vezes nos é imposto, podendo limitar ou obscurecer qualquer ação nossa através do olhar (autoritário) ou da postura de voz que revela um tom dominador.
Professores e autoridades continuam o papel do pai; suas ordens e interdições permanecem poderosas no Ideal do Eu e, sob a forma de consciência moral, exercem doravante a censura moral. A tensão entre as exigências da consciência moral e as realizações do Eu é experimentada como sentimento de culpabilidade.
De outra forma, quanto à incitação ao gozo, proposto por Lacan, remetemos essa questão em direção ao signo de Aquário. Curioso signo que nos sugere uma era (de Aquário) de prosperidade, onde a coletividade, a cooperação, a sustentabilidade, a oposição ao autoritarismo, são bandeiras otimistas por muitos levantadas.
Entretanto, dois mitos gregos, que nos falam desse signo, ilustram uma condição bastante diferente: o primeiro deles é do próprio deus Uranos, considerado pela mitologia como o deus primevo, que nasce de Géia e depois gera em Géia todos os seus filhos. Mais tarde, a deusa cansada das investidas assíduas de seu filho/marido, convoca um de seus filhos – Cronos / Saturno – para “castrar” o seu pai. Desse “crime” nasce Afrodite, deusa da beleza e do amor.
Um mito que nos remete a um excesso, a um crime e parafraseando o próprio Freud, um chefe de uma horda primitiva, que precisa ser deposto para que surja uma coletividade.
O outro mito nos fala de Prometeu, aquele que “rouba” o fogo de Zeus e o entrega aos homens. Aqui, o fogo simbolizando o conhecimento, mas cujo protagonista desse feito é acorrentado no monte Cáucaso, sofrendo diuturnamente o ataque de um abutre que lhe “rouba” um pedaço de seu fígado que, na noite seguinte se recupera. Através dessa operação, Prometeu é condenado por toda a eternidade.
Poderíamos interpretar esse segundo mito como um presságio de um futuro próximo, onde o ser humano depois de devastar ecologicamente a Terra, terá que “sobreviver” com o que lhe resta?
Nas palavras de Lacan: “Um enunciado discordante, ignorado na lei, um enunciado promovido ao primeiro plano por um evento traumático, que reduz a lei a uma ponta cujo caráter é inadmissível, inintegrável – eis o que é essa instância cega, repetitiva, que definimos habitualmente pelo termo Supereu”.[1]
Na medida em que o Supereu instaura severas exigências como ideal, essas exigências que jamais podem ser satisfeitas, delineia-se, assim, uma aproximação dos conceitos de Supereu e Pulsão de Morte.
Em nossa contemporaneidade, o Supereu propaga a sua marca, acentuando o declínio do Ideal do Eu. Assim, o “mal-estar (sintoma) da civilização é regido por uma ascensão galopante do imperativo supergóico.
O Supereu como agente do Isso é um poder ingovernável com capacidade de se “opor ao Eu e dominá-lo. Não participa do exame de realidade, mas sim das “delícias da vida” . Um bom exemplo que observamos agora é a busca pelo prazer desenfreada pela maioria das pessoas.
O Supereu tem sua raiz (como agência do isso) na identificação primária ou na incorporação intrusiva, tendendo assim, a fixação (Aquário, signo fixo). A identificação primeira é a identificação com o pai da pré-história pessoal.
Pela mediação, os processos internos do pensamento são convertidos em percepções. Assim, podemos afirmar que o Supereu é o herdeiro do isso pela sua ligação com o pai terrível, que instiga a partir do cerne pulsional (Saturno em Aquário), mas também é o herdeiro do Complexo de Édipo (Saturno em Capricórnio), no que diz respeito à suplência do pai ante a falha da lei.
Como excedente pulsional (Urano) – voz, olhar, espectro – do que resta do Pai primevo, que impele a partir do imperativo que “se faz ouvir gozando”, face obscura de toda lei.
Assim, enquanto temos Saturno (Capricórnio) enredado com seus anéis, limitando, dificultando os seus súditos até que aprendam a lidar com a realidade, na outra face temos Saturno (Aquário) que projeta sua vida de acordo com suas próprias regras, de forma autoritária e narcisista, tentando impor sua maneira de pensar (ou transgredir).
Será essa “fórmula” que nos assegurará uma “Era de Aquário” com tendências a um melhor convívio da coletividade ou, como Prometeu, diante das limitações impostas pelos seus próprios atos, teremos de aprender a viver dentro daquilo que efetivamente for possível?
[1] Lacan, J. “O Seminário – Livro 1: Os escritos técnicos de Freud”, Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009, p. 260.