
Freud, ao estudar a neurose obsessiva, percebeu que os rituais desempenham um papel central na vida dos sujeitos obsessivos, aproximando-se em vários aspectos dos cerimoniais religiosos. Em seu artigo de 1907, “Atos Obsessivos e Práticas Religiosas”, Freud estabelece um paralelo entre os rituais dos neuróticos obsessivos e os religiosos, destacando que ambos envolvem regras rígidas, repetições compulsivas e uma necessidade imperativa de cumprimento, sob pena de angústia ou punição.
Na neurose obsessiva, os rituais surgem como uma tentativa de lidar com a culpa e a angústia derivadas de desejos inconscientes reprimidos. O sujeito obsessivo frequentemente experimenta pensamentos intrusivos e tenta neutralizá-los por meio de ações repetitivas, tais como lavar as mãos inúmeras vezes, verificar portas ou realizar contagens mentais. Freud observa que esses comportamentos guardam semelhança com os atos religiosos, onde também há regras precisas, expiação de culpas e uma relação com uma instância superior que estabelece proibições e obrigações.
Uma diferença essencial entre os dois, segundo Freud, é que os rituais religiosos estão socialmente legitimados e compartilhados por uma comunidade, enquanto os rituais obsessivos são individuais e frequentemente vividos com sofrimento. No entanto, ambos refletem uma necessidade psíquica profunda de organizar e dar sentido ao mundo interno e externo.
O neurótico obsessivo sente uma necessidade imperiosa de cumprir seus rituais, pois qualquer falha ou omissão gera uma intensa ansiedade, que só pode ser aliviada pela repetição do comportamento compulsivo. Freud descreve esse mecanismo como uma forma de “anulação”, na tentativa inconsciente de neutralizar pensamentos ou desejos considerados inaceitáveis.
A repetição dos atos numa sequência rígida e invariável está diretamente ligada à angústia obsessiva, funcionando como uma defesa contra sentimentos de culpa ou medos irracionais. A crença de que algo ruim pode acontecer caso o ritual não seja cumprido reforça o ciclo obsessivo-compulsivo.
Os fiéis que seguem práticas religiosas rigorosas muitas vezes experimentam sentimentos de culpa intensa quando falham em cumprir seus deveres espirituais, assim como o obsessivo sente uma culpa esmagadora ao não realizar seus rituais. Ambos acreditam que a não realização do ato pode levar a consequências negativas, criando uma necessidade de expiação.
Diferentemente da neurose obsessiva individual, a religião tem um caráter socialmente aceito e compartilhado por uma comunidade, o que reduz o sofrimento psíquico do indivíduo.
Em “Totem e Tabu” (1912), Freud elabora uma hipótese sobre a origem da religião, da moral e da neurose obsessiva a partir do mito da horda primitiva. Segundo ele, os filhos da horda, dominados pelo pai tirânico que monopolizava as mulheres e o poder, unem-se para assassiná-lo. Esse ato libertador, no entanto, gera culpa e angústia, levando os filhos a instaurarem um sistema de proibições e rituais como forma de expiação e como um meio de substituir simbolicamente o pai morto. Assim nasce o totemismo, que Freud vê como a origem arcaica da religião.
A figura do “pai morto” não desaparece, mas retorna como uma sombra psíquica, internalizada na forma de um Superego severo. Esse pai simbólico impõe regras e exige fidelidade, criando no sujeito uma dívida eterna. É esse sentimento de culpa estrutural que impulsiona tanto a religiosidade quanto os rituais obsessivos.
O neurótico obsessivo, assim como o religioso, vive sob a influência dessa figura paterna internalizada. No caso da religião, o pai glorificado assume a forma de um Deus protetor, mas também punitivo, que exige devoção e obediência. No caso do obsessivo, essa figura se manifesta através da necessidade de cumprir rituais para evitar punições indefinidas, sendo constantemente perseguido por uma culpa inconsciente.
O que Freud propõe, então, é que tanto a religião quanto a neurose obsessiva são tentativas de lidar com essa dívida simbólica para com o pai morto, que nunca pode ser completamente paga. Essa dinâmica nos mostra como a subjetividade é estruturada pelo conflito entre desejo, proibição e culpa.
Jacques Lacan, ao reler Freud, aprofunda essa relação entre a neurose obsessiva e a figura do Pai, especialmente no contexto do monoteísmo. Para o obsessivo, Deus assume a posição do Pai absoluto, aquele que tudo vê e tudo sabe, garantindo proteção, mas ao mesmo tempo impondo proibições rígidas.
Essa dualidade — proteção e proibição — gera um impasse na neurose obsessiva. O sujeito precisa manter uma relação com esse Pai simbólico, mas ao mesmo tempo deseja se livrar de sua autoridade. No entanto, renunciar ao Pai significa perder sua proteção, o que gera uma angústia insuportável. Assim, o obsessivo encontra no cerimonial — ou seja, nos rituais compulsivos — um meio de equilibrar essa tensão, funcionando como um ato de defesa contra o temor da punição.
Para o neurótico obsessivo, a suposição do pai simbólico é fundamental para a estruturação do seu psiquismo. O Grande Outro, conceito lacaniano que representa a instância da linguagem, da lei e do desejo do outro, precisa ser sustentado para que o obsessivo possa se situar no mundo e manter um sentido de ordem.
O obsessivo vive num impasse: se ele questiona a autoridade do pai, perde sua referência; se a mantém de forma rígida, sente-se aprisionado. Assim, ele precisa suportar a existência do Outro, mas ao mesmo tempo busca estratégias inconscientes para regulá-lo, seja através da repetição compulsiva, seja pela tentativa de controle absoluto sobre o desejo e a lei.
*** MAPA DE UM SUJEITO OBSESSIVO ***

Mapa de um artista de grande expressão pública com diagnóstico de neurose obsessiva e que através de sua terapia pôde ter um alívio de seus sintomas.
O Sol está no signo de Áries revelando liderança, o que realmente ocorre e sua Lua no signo de Aquário, indicando busca por liberdade, valorização da individualidade – não se esquecendo dos amigos – e independência financeira.
Entretanto, reparem na interceptação dos signos de Virgem e Peixes, respectivamente nas Casas Três e Nove. A palavra “interceptação” significa algo que não consegue chegar ao seu destino. A energia dos signos interceptados tende a ficar concentrada, indicando algo que precisa ser resolvido dentro do contexto da casa astrológica. Em geral, são áreas em que o sujeito presta menos atenção.
Sabemos que o signo de Virgem, muitas vezes, coloca questões repetitivas, numa ordenação comparável aos processos obsessivos. Por outro lado, o signo de Peixes (em parceria com o signo de Áries, pode remeter ao sentimento oceânico.
Quase sempre a mente de um(a) Virginiano(a) é bastante organizada, beira o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Algumas características que podem ser observadas: são pessoas atentas às minúcias, às entrelinhas, aos defeitos, o que está fora da posição e desorganizado, segundo seus critérios de avaliação, que busca a perfeição, que quer sempre atingir o melhor de praticidade, persistência e determinação. Esta necessidade de um trabalho bem-feito abre espaço para vários tipos de crítica. Nada parece satisfazer esse sujeito sempre em busca de perfeccionismo e excelência.
Tal análise e constatação durante o processo terapêutico podem auxiliar o paciente a encontrar novas significações para os seus problemas pessoais, conduzindo-o para um processo de vida mais livre de sofrimento (provocado por esse tipo de neurose).